terça-feira, 4 de maio de 2010
sem mais nem menos...
Sem mais nem menos
surgiu o passado,
corpo intranquilo
feito de sons semelhantes
aos rostos que amei,
universo donde me excluí,
mar desprovido de cais
na obliquidade dos contrastes.
Esta noite voltei à minha infância:
menina rosada de sonhos nos bolsos,
bailarina de corda na caixinha de som.
À infância regressa-se solitariamente,
subindo um rio sem margens,
até ao lugar em que a nascente
se confunde com o tempo
e o tempo se transforma em espanto.
Procuro, teimosamente,
o rasto da brisa
que me invade o corpo
e apenas sei que o sonho
é um risco inquietante,
quando a solidão tem rosto
e se conhece a posição das estrelas
no âmago das palavras.
Reinicio a infância
no esboço do poema
e circunscrevo o litoral
fragmentado do que sou.
Quem foi que descodificou
o céu no meu olhar
e me deixou na alma
um deus imaginado?
Quando o espaço do sonho é circular
como o tempo das cerejas,
ou da migração dos pássaros
que fendem o infinito,
inadiado é o rito da poesia.
Se eu fosse uma gaivota, dançaria
na proa dos veleiros
até à hipnose
de abraçar a maresia.
Assinar:
Postar comentários (Atom)
Nossa, nao conhecia esse poema! ja salvei aqui! mto bonito e verdadeiro.
ResponderExcluirBeijos
«Sem mais nem menos surgiu o passado», acontece-me muitas vezes!...
ResponderExcluirExcelente poema, mas não sei se é ou não de uma canção com o título , «Sem mais nem Menos», que veio logo ao meu pensamento!...
Sem mais nem menos, também vou passando por aqui e deixando um beijinho para a Me.
Manú
"... até à hipnose de abraçar a maresia."
ResponderExcluirMuito lindo:)
Bjão e uma ótima noite de quarta!