quinta-feira, 19 de agosto de 2010

que dizer deles?

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littlemewhatever
deviantart
















Mais alguns passos e ela voltou a se colocar diante de mim: _Você talvez imagine que eu seja uma criatura má. Quase todo mundo imagina isto. É sempre fácil julgar os outros. Mas posso lhe garantir, Betty, que as aparências sempre estiveram contra mim, nesta vida só tenho sido má por inconsciência ou impossibilidade. - Calou-se um minuto, como se pesasse as próprias palavras. - É verdade que nunca me preocupei em ser exatamente boa, mas...
Então, a mim, que nunca havia pensado naquelas coisas, nem me detido ante problemas de tão grande profundidade, ocorreu um pensamento que quase subiu aos meus lábios na forma de um grito: que é a bondade? Como julgá-la, como aquilatar o seu valor diante de um ser impulsivo e cego como aquele que se achava ante a mim? Podia-me enganar, podia apenas estar cedendo ao sortilégio que a impregnava, mas não era isto que a redimia e a tornava diferente de todas as criaturas que eu conhecia?
_ Somos sempre cruéis quando queremos ser nós mesmos. _(Olhei-a: ela estava de costas para mim, uma sombra recortada contra o fundo ainda claro da janela.) - Mas os outros, os que nos impedem, os que nos tolhem o caminho... que dizer deles?
Voltou-se, e fixou-me com olhar intenso:
_Não, nunca fui má, De tudo o que me lembro é que talvez tenha sido um tanto fraca. - (Dentro de mim o pensamento continuava: fraca, quando toda ela só respirava decisão e ousadia? Sim, talvez fraca por não ter tido a coragem de ser absolutamente o seu impulso: uma vaga de voracidade e de morte.) - Certas coisas poderiam ter sido feitas de outro modo... ou evitadas... Mas quem realmente pode se vangloriar de nunca ter pecado?

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