segunda-feira, 26 de setembro de 2011

o sabor de um nome



























Piotr Vasco Wasilkowski

a F.M.

Fere esse dardo, um pedaço de mim que entra em guerra consigo próprio. Chama que se atravessa na carne e luta contra o repouso que se busca. Duas asas que cobrem a terra e o corpo sangra. Duas asas lutando por erguer-se e libertar-se da terra. Lutando por elevar o rosto do anjo ao olhar de deus. Aí a luz, penetrando a densa camada que transforma o mundo em escuridão. A pele esticada sob o céu, os órgãos à transparência. O desejo. Como um tambor, a pele esticada, os nervos à superfície. Pequenos veios esverdeados, cruzando-se infinitamente. Um dédalo à visibilidade da pele, que estremece. O céu em cima, o inferno a suportá-lo. O corpo algures, a desejar o nome, em fúria adocicada de querer fundir-se num outro, de que procura o nome. Suspende-se nas asas do tempo, fulge na memória, procura o intervalo entre dois instantes. Nem passado nem futuro. O instante do Agora. O Aqui onde é. A pele estremece entre os lilases da noite, perde-se na saliva salgada do mar. O corpo enlouquece à procura do nome que o faz vibrar. Esse dardo traz consigo o sabor de um nome.

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