segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

essa verdade nua em que ninguém acredita


















Penso nos olhos. Penso naquilo que vês, um certo brilho inexacto, uma luz que pousa na superfície irregular do mundo. Penso nos teus olhos, na temporalidade, na escassez, essa verdade nua em que ninguém acredita.
[...]Penso nos olhos, nas coisas que são efémeras, no teu amor. Os olhos comovidos, um azul qualquer que guarde ainda o céu sobre as nossas cabeças incendiadas.
Há uma esperança ingénua nesse azul, uma esperança azul pascal, um azul dominical sobre as nossas cabeças incendiadas. Lembro-me de um cântico que nasceu nas paredes da tua boca, nasceu como nascem os filhos que emergem na luz, que assomam no recorte dos afectos como pássaros, pássaros vermelhos com cheiro de terra, mãos com cheiro de terra, olhos comovidos com o cheiro da terra quando chove, os filhos do Homem, a voz roçando as paredes da boca, os dedos famintos, o sal nos dedos minerais ou Deus no interior da noite a conduzir teus sonhos dispersos. Penso em ti, ocasionalmente, com terra nas mãos como quem amansa o fogo.

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