sábado, 31 de dezembro de 2011
despedida
QUERIDOS AMIGOS,
APROVEITANDO O ÚLTIMO DIA DO ANO PARA ENCERRAR ESTE BLOG...
QUERO AGRADECER DE CORAÇÃO A TODOS PELA PARTILHA, VISITAS E MENSAGENS...
ESTE ESPAÇO ANTES A DIVULGAÇÃO DA POESIA, QUE AMO TANTO, FOI-ME UMA SALVAÇÃO PESSOAL...
UM ABRAÇO APERTADO EM TODOS!
ME
sexta-feira, 30 de dezembro de 2011
tão perto que se perde...
vachi bumbernickle
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estou tão perto que me movo dentro de ti.
tão perto que sinto este poema desabitado.
estou tão perto. eu sei. tão perto que me dói a boca.
de tão fulgente. de tão incessante que é a água.
tão perto que as palavras saem do mesmo rumor.
como se ardessem no mesmo gesto atado.
assim tão perto. tão perto que nem te posso mostrar
o mar aberto. a colina acesa à nossa frente.
mas sentes ao menos a distância invocada da procura?
a estrela profunda da noite. a vereda do paraíso.
que vai deste poema ao lugar onde te condensas?
sentes como o vão infinito das palavras inexiste?
como elas se não desvendam e passam sem te tocar?
quinta-feira, 29 de dezembro de 2011
ele e ela
quarta-feira, 28 de dezembro de 2011
o silêncio também escreve
segunda-feira, 26 de dezembro de 2011
escada da vida
onymus
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para a Inês
Tudo se perde, claro. Mas lembrarei
seguramente os olhos vermelhos
de um gato de Alfama e todos os poemas
que não escrevi contra mim próprio,
naquele pátio aberto a ciladas e dissipações.
Vinho tinto, charros, paixões escarnecidas
num diálogo de guitarras desatentas.
Tu fazias vinte e quatro anos, é certo,
e dizias com maior razão que aqueles olhos na noite
pertenciam a uma gata. Perdida, achada luz,
quando se percebe o desabrigo, a difícil
pertença a esta espécie de gente,
comunidade de loucos deserdados a que
o empregado, de bigode, chamou
«o pessoal da bebedeira». Porque isto
que não passa, sabemo-lo bem, é a vida
ou a morte, uma perda que dura
e que não se apaga assim, sob um cerco
de navalhas ou de inúteis, vigorosos
sentimentos. Por exemplo o amor,
essa estranha mistura de angústia, desejo
e novamente angústia. O não apenas sexo
de adormecer em braços reais
que afastem para sempre o mundo.
Mas acabo por subir cambaleante as escadas
à hora em que o vizinho de baixo
se prepara para ser uma pessoa altamente
honrada, no talho de bairro
que lhe dá sentido aos dias.
E não é dor, nem prazer, nem
ressentimento o que um corpo
sente, às seis da manhã, prostrado
na lama involuntária destes versos.
Antes um vazio imperfeito, uma
ferida sem lugar que nenhuns lábios,
sequer os teus, saberiam calar.
Fizeste, já disse, vinte e quatro anos.
Não esperes grande coisa da felicidade.
sexta-feira, 23 de dezembro de 2011
demora mesmo quando chega antes...
strippysocksrock
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O amor nos condena:
demoras
mesmo quando chegas antes.
Porque não é no tempo que eu te espero.
Espero-te antes de haver vida
e és tu quem faz nascer os dias.
Quando chegas
já não sou senão saudade
e as flores
tombam-me dos braços
para dar cor ao chão em que te ergues.
Perdido o lugar
em que te aguardo,
só me resta água no lábio
para aplacar a tua sede.
Envelhecida a palavra,
tomo a lua por minha boca
e a noite, já sem voz
se vai despindo em ti.
O teu vestido tomba
e é uma nuvem.
O teu corpo se deita no meu,
um rio se vai aguando até ser mar.
quinta-feira, 22 de dezembro de 2011
à emoção que não entende o que deseja
[...]
Por cima do casaco hesitavam as mãos
de novo perdidas no medo de prender-se
ao metal tecido de milagre da saliva.
Eram mãos que não sabiam pousar.
A experiência agora é esta: chamar desamor
à emoção que não entende o que deseja,
confunde os sentimentos numa aridez tão pesada
que nem eu percebo como deixa voar um avião
por este sem fim de céu que traz o fim.
Mas foi horas antes que findou.
Ia a noite avançando, escurecia o hotel
e as mãos ficaram presas. Tanto tempo,
tanto tempo nenhum.
♪
And I wanna remember this night
And how my words never came out right
It's just my patience that keeps me alive
Just like all those pretty lights
Just like all the pretty lights in the sky
e vou passando como tudo passa
belovaan
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sou um impostor, um dia saberão
que simulei tudo o que sempre fui.
sou uma ficção, meu sangue é só linguagem
meu sopro é uma explosão que vem de dentro
em forma de palavra.
quando já não for mais, serei eu mesmo.
enquanto tardo, trapaceio contra o tempo
a máquina que vai me devorando
invento meus adventos e meus ventos
e vou passando como tudo passa
em busca de uma graça que ultrapasse
o círculo da minha circunstância
o espelho que não seja senão o outro
esse que me habita e que me espreita
e, não sendo eu, me acata os meus espantos
[balada do impostor]
quarta-feira, 21 de dezembro de 2011
terça-feira, 20 de dezembro de 2011
à espera do fim
[...]
pensou, foi longe como se lhe
abrissem a cela. expôs o peito, a medo,
e ficou incompleta sem vontade de
voltar a fugir
o amor, sabia bem, era só uma imagem
cada vez mais verbal, escondida na boca
como quem tem medo de pedir o que
não é seu. por isso, quieta, estava só à
espera de se apagar naturalmente
seios e anseios
segunda-feira, 19 de dezembro de 2011
essa verdade nua em que ninguém acredita
Penso nos olhos. Penso naquilo que vês, um certo brilho inexacto, uma luz que pousa na superfície irregular do mundo. Penso nos teus olhos, na temporalidade, na escassez, essa verdade nua em que ninguém acredita.
[...]Penso nos olhos, nas coisas que são efémeras, no teu amor. Os olhos comovidos, um azul qualquer que guarde ainda o céu sobre as nossas cabeças incendiadas.
Há uma esperança ingénua nesse azul, uma esperança azul pascal, um azul dominical sobre as nossas cabeças incendiadas. Lembro-me de um cântico que nasceu nas paredes da tua boca, nasceu como nascem os filhos que emergem na luz, que assomam no recorte dos afectos como pássaros, pássaros vermelhos com cheiro de terra, mãos com cheiro de terra, olhos comovidos com o cheiro da terra quando chove, os filhos do Homem, a voz roçando as paredes da boca, os dedos famintos, o sal nos dedos minerais ou Deus no interior da noite a conduzir teus sonhos dispersos. Penso em ti, ocasionalmente, com terra nas mãos como quem amansa o fogo.
domingo, 18 de dezembro de 2011
leva me para a tua loucura
ALEXANDRA
BANUT
Quem és tu? De onde vens?
Na tua fronte
Paira o vago crepúsculo infinito
Da distância...
[…]
Há nas tuas palavras um abismo.
Ouvindo-as logo sinto uma vertigem,
E, em sobressalto, chora e se lastima
O que, em mim, é vedado, oculto e virgem.
A parte indefinida do meu ser
Ama a sombra espectral em que desvairas...
E nem, ao menos, posso compreender
Esta força amorosa que me leva
Para a tua loucura!
esperando-te
quinta-feira, 15 de dezembro de 2011
uma manhã para ser eu
sei tão pouco
Sei tão pouco
dos poemas que te escrevo,
a palavra eriçada,
coberta de cinza na língua
que não sabemos pronunciar.
Sei tão pouco dos teus dedos,
onde se prolonga a pele
sedenta de mais pele,
reduzindo a escombros o sol.
Sei tão pouco dos teus olhos,
lugar de silêncios onde
se guarda a penumbra e
se acertam os passos,
vagarosos conta-gotas do infinito.
Sei tão pouco de mim
que me inundam estas
lágrimas por dentro,
sôfregas, centrífugas,
serpenteando caminhos
rumo ao incêndio.
quarta-feira, 14 de dezembro de 2011
perco a memória da tua voz
tinha comigo um pedaço de ti
e enquanto caminhava
cada passo evocava a tua presença
e tu estavas mais perto
de vez em quando arrancava uma memória
para passar o tempo
e sangrava muito sempre que o fazia
e um sentimento de culpa
invadia-te por dentro
e eu sentia que estavas perto
e ao mesmo tempo tão distante de mim
às vezes perco a memória da tua voz
terça-feira, 13 de dezembro de 2011
mas viver não nos derrota, deslumbra!
Rachel
Querrien
......................................(para Carla)
Paga-se a vida tão caro,
mas viver não nos derrota,
deslumbra. estando certo
de que o tempo terá como
e onde ficar: no entressono.
E não sou mais estrangeiro.
Deus concedeu esta graça
de permitir que mais velho,
por tanto errar, possa ao menos
contemplar que sou eterno.
[os viventes - jacintos sobre o jarro]
segunda-feira, 12 de dezembro de 2011
domingo, 11 de dezembro de 2011
acolhida à sombra da árvore que passa
pouca importa
andrey
dubinin
Não há ninguém que baile para ti?
Ninguém que por ti diga a melhor
é sempre a primeira vez, não há
ninguém que ao semicerrar os olhos
te inclua dentro? Pouco importa,
iguais vão suceder-se os dias
como soldados num domingo
vitorioso. Não há ninguém que viva
para ti? Assim é como começaste.
Ainda te faltam coisas para descobrir,
pensa nisso, entre os dias encontrarás
o sossego que detenha a tua vida
e nessa altura, que não baile
para ti não passará de uma borra
no fundo do copo que bebes até ao fim.
sábado, 10 de dezembro de 2011
quinta-feira, 8 de dezembro de 2011
real, real porque me abandonaste?
duchesse-2-guermante
Real, real, porque me abandonaste?
E, no entanto, às vezes bem preciso
de entregar nas tuas mãos o meu espírito
e que, por um momento, baste
que seja feita a tua vontade
para tudo de novo ter sentido,
não digo a vida, mas ao menos o vivido,
nomes e coisas, livre arbítrio, causalidade.
Oh, juntar os pedaços de todos os livros
e desimaginar o mundo, descriá-lo,
amarrado ao mastro mais altivo
do passado. Mas onde encontrar um passado?
um resto...só
mas podes deixar: eu me apago sozinho...
ennil
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Quantas vidas terminei sem antes começar? Quantas chances tive de ser diferente? Eu me consumi e não sei se sinceramente acreditava ou se era a noite que me fazia crer em noites. Eu me consumi e não me acabei. Eu quis me expulsar e me tranquei mais fundo. Ainda resta algo que não foi varrido, vasculhado, amansado. Nada soterra o tempo: cada vez mais recente quanto mais antigo. Olho para os filhos e não sei dizer o que queria dizer, não sei o que dizer, quando estou pensando tenho convicção que direi e, na hora de falar, estou de novo esvaziado. Eu precisava de tão pouca coisa e não me aceitei em troca. Não mudei o mundo apenas porque não sabia qual o mundo em que vivia. A noite tinha uma promessa que não era esperança, uma promessa que me fazia vivo, possível, insolente, insensato, inconseqüente. Ardendo vivo uma água-viva, árvore de água, escada de água. Plumas de água, espuma de escada. O vento amassava o pão da grama e eu pastava a céu aberto, patético como a relva em seu início, entontecido de uma umidade branda. Perdi amigos por tão pouco, por tão pouco julgava e condenava e não me absolvia. E como uma oração que se pressente, não dizia, não podia dizer com meus braços magros e ossudos, de imprevista simplicidade. E não me via inteiro, e sim aos sorvos e goles, falava o que queria, negava o que podia, afirmava o que não sentia e tudo era misturado o suficiente para não descobrir a origem. Perdi amigos, ganhei amigos, porém estive irremediavelmente isolado. Eu não me atingia. Nunca me alcancei. Seguro minha mão como a de um estranho. E houve desencanto, houve engano, disse que não mais faria, que era forte e que não precisava disso e refiz e fiz e voltei como quem nasce para ensaiar o grito. Como explicar minha risada súbita no meio de um jantar sério de negócios? Como explicar que debocho do que sou, mas com ternura? O deboche é minha maneira de falar que eu me entendo e isso não me basta. Que eu caminho como quem se escora em um ombro, que me escondo como quem caminha. Que nunca me salvei das noites onde não estive, que envelheci sem saber se a verdade traz beleza, se estava mesmo em mim ou se alguém perto me descreveu. Eu me apago sozinho. Não me acendi, mas podes deixar, eu me apago sozinho.
quarta-feira, 7 de dezembro de 2011
terça-feira, 6 de dezembro de 2011
arritmia
mirabiliaimages
Detestava coincidências, simetrias,
concordâncias, a facilidade com que as coisas
se arrumam por afinidade ou contraste
só para afeiçoar um sentido ao seu
descomandado fluxo. Sonhava com
uma aspirina que todos os dias reavivasse
a desordem na flora recôndita do mundo,
devolvendo a arritmia à batida cardíaca
segunda-feira, 5 de dezembro de 2011
lendo o que escreves
nairafee
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Alguém lê o que escreves, triste consolação,
pálida alegria, caindo a tarde sobre as coisas.
A vida perfeita vem do outro lado do mar,
como uma frase que nunca foi dita, amável
claridade que os seus olhos nunca atormentam;
não têm fundo. A vida perfeita é breve.
Cada palavra é um resumo – e, em cada palavra,
quanto deixas de teu?, quanto delas se perde
nas florestas? O silêncio protege-te de ti mesmo,
guarda os dias para os grandes passeios
entre as fronteiras da terra distante, onde a luz
te espera; guarda qualquer coisa nesse espaço
em branco do teu coração. Quantas noites
o que escreveste se perdeu – sem saberes, afinal,
que para ela escrevias? Tentação quando a tua
natureza cede e a vida regressa para que tu fales,
alguma vez falando de amor, quase sem respirar.
Que não esteja nos teus braços, mas que se aproxime,
como o calor da ventania, os passos da areia, a sede
de outra sede igual. Como saberias que o amor existe
longe da sua pele? Se escreves, sobre isso escreves,
e dizes o nome dos planetas, das feridas. Esperas
que venha esse sinal e te chame quando a noite
não sabe de que lado está, nem de que lado dorme.
domingo, 4 de dezembro de 2011
bato minhas asas
sábado, 3 de dezembro de 2011
o silêncio arde, lento
sexta-feira, 2 de dezembro de 2011
entre a palavra e silêncio
loveinmist
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Não se trata de falar
nem tampouco de calar:
se trata de abrir algo
entre a palavra e silêncio.
Talvez quando tudo se transcorra
também a palavra e o silêncio,
quedem nessa zona aberta
como uma esperança de volta.
E talvez o sinal invertido
constitua um aviso de atenção
para este mutismo ilimitado
palpável, onde nos afundamos.
no correr do coração
quarta-feira, 30 de novembro de 2011
um salto como um incêndio
photoport
Todo salto volta a apoiar-se.
Mas em algum lugar é possível
um salto como um incêndio,
um salto que consuma o espaço
aonde deveria terminar.
Cheguei às minhas inseguranças definitivas.
Aqui começa o território
aonde é possível queimar todos os finais
e criar o próprio abismo,
para adentrar desaparecendo.
um amor mais além do amor
ineedchemicalx
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Um amor mais além do amor
Por cima do rito do vínculo
Mais além do jogo sinistro
Da solidão e a companhia
Um amor que não necessite regresso
Porém tampouco partida
Um amor não submetido
As chamas de ir e de voltar
De estar despertos ou dormidos
De chamar ou calar
Um amor para estar juntos
Ou para não está-lo
Porém também para todas as posições intermediárias
Um amor como abrir os olhos
E talvez também como fechá-los.
sábado, 26 de novembro de 2011
sexta-feira, 25 de novembro de 2011
terça-feira, 22 de novembro de 2011
tudo em mim é um pássaro
Tudo em mim é um pássaro.
Adejo com todas as minhas asas.
Queriam extirpar-te
mas não o farão.
Diziam que estavas incomensuravelmente vazio
mas não estás.
Diziam que estavas doente prestes a morrer
mas estavam errados.
Cantas como uma colegial
Tu não estás desfeito.
Doce peso,
em celebração da mulher que sou
e da alma da mulher que sou
e da criatura central e do seu prazer
canto para ti. Atrevo-me a viver.
Olá, espírito. Olá, taça.
Fixar, cobrir. Cobre o que contém.
Olá, terra dos campos.
Bem-vindas, raízes.
[...]
Doce peso
em celebração da mulher que sou
deixa-me levar uma echarpe de três metros,
deixa-me tocar o tambor pelas que têm dezanove anos,
deixa-me levar taças para oferecer
(se é isso o que me toca).
deixa-me estudar o tecido cardiovascular,
deixa-me calcular a distância angular dos meteoros,
deixa-me chupar o pecíolo das flores
(se é isso o que me toca).
Deixa-me imitar certas figuras tribais
(se é isso o que me toca).
Pois o corpo preciso disso,
que me deixes cantar
para a ceia,
para o beijo,
para a correcta
afirmação.
segunda-feira, 21 de novembro de 2011
move-se no desperto e vai adormecer
riddlebow
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[...]
As tuas mãos dentro das minhas são actos;
a minha língua sobre a tua garganta - braços
cantantes que se cerram; olhos abertos, confiantes
escuros
bebem a manhã -
uma floresta estremece no teu cabelo.
[...]
Sob o azevinho dos sonhos, uma estrela
- como se quisesse juntar-se a nós numa
colina distante -
move-se no desperto ocidente e vai adormecer.
[A ponte]
do tempo onde não esteve
As longas avenidas talvez imaginárias
demonstram-me a existência de lugares
que poderiam ter-me pertencido
numa idade passada; é irreal
agora percorrê-las: tê-lo-ia
sido sempre, não poderia haver
motivo para dor num tempo que com este
presente se divide; é um espectro tardio
o espaço finalmente criado pelo olhar:
aí estás olhando-me nos olhos
cidade sob a forma de jovem ser unívoco
ainda inexistente no tempo de uma vida
vivendo no espaço que não teve o seu tempo,
e tarde volta do tempo onde não esteve
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