quarta-feira, 24 de fevereiro de 2010

e acende os corações

De onde é que vem esses olhos tão tristes?
Vem da campina onde o sol se deita.
Do regalo de terra que teu dorso ajeita.
E dorme serena, no sereno e sonha.

De onde é que salta essa voz tão risonha?
Da chuva que teima, mas o céu rejeita.
Do mato, do medo, da perda tristonha.
Mas, que o sol resgata, arde e deleita.

Há uma estrada de pedra que passa na fazenda.
É teu destino, é tua senda.
Onde nascem tuas canções.
As tempestades do tempo que marcam tua história
Fogo que queima na memória
E acende os corações.

Sim, dos teus pés na terra nascem flores.
A tua voz macia aplaca as dores
E espalha cores vivas pelo ar.
Sim, dos teus olhos saem cachoeiras.
Sete lagoas, mel e brincadeiras.
Espumas, ondas, águas do teu mar.


[Paula Fernandes e Almir Sater - Jeito de Mato]

quero ser livre

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

não sei explicar

Solidão é uma ilha com saudade de barco.
Saudade é quando o momento tenta fugir da lembrança para acontecer de novo e não consegue.
Lembrança é quando, mesmo sem autorização, seu pensamento reapresenta um capítulo.
Autorização é quando a coisa é tão importante que só dizer "eu deixo" é pouco.
Pouco é menos da metade.
Muito é quando os dedos da mão não são suficientes.
Desespero são dez milhões de fogareiros acesos dentro de sua cabeça.
Angústia é um nó muito apertado bem no meio do sossego.
Agonia é quando o maestro de você se perde completamente.
Preocupação é uma cola que não deixa o que ainda não aconteceu sair de seu pensamento.
Indecisão é quando você sabe muito bem o que quer mas acha que devia querer outra coisa.
Certeza é quando a idéia cansa de procurar e pára.
Intuição é quando seu coração dá um pulinho no futuro e volta rápido.
Pressentimento é quando passa em você o trailer de um filme que pode ser que nem exista.
Renúncia é um não que não queria ser ele.
Sucesso é quando você faz o que sempre fez só que todo mundo percebe.
Vaidade é um espelho onisciente, onipotente e onipresente.
Vergonha é um pano preto que você quer pra se cobrir naquela hora.
Orgulho é uma guarita entre você e o da frente.
Ansiedade é quando sempre faltam 5 minutos para o que quer que seja.
Indiferença é quando os minutos não se interessam por nada em especial.
Interesse é um ponto de exclamação ou de interrogação no final do sentimento.
Sentimento é a língua que o coração usa quando precisa mandar algum recado.
Raiva é quando o cachorro que mora em você mostra os dentes.
Tristeza é uma mão gigante que aperta seu coração.
Alegria é um bloco de Carnaval que não liga se não é Fevereiro...
Felicidade é um agora que não tem pressa nenhuma.
Amizade é quando você não faz questão de você e se empresta pros outros.
Decepção é quando você risca em algo ou em alguém um xis preto ou vermelho.
Desilusão é quando anoitece em você contra a vontade do dia.
Culpa é quando você cisma que podia ter feito diferente, mas, geralmente, não podia.
Perdão é quando o Natal acontece em outra ápoca do ano.
Desculpa é uma frase que pretende ser um beijo.
Excitação é quando os beijos estão desatinados pra sair de sua boca depressa.
Desatino é um desataque de prudência.
Prudência é um buraco de fechadura na porta do tempo.
Lucidez é um acesso de loucura ao contrário.
Razão é quando o cuidado aproveita que a emoção está dormindo e assume o mandato.
Emoção é um tango que ainda não foi feito.
Ainda é quando a vontade está no meio do caminho.
Vontade é um desejo que cisma que você é a casa dele.
Desejo é uma boca com sede.
Paixão é quando apesar da palavra "perigo" o desejo chega e entra.
Amor é quando a paixão não tem outro compromisso marcado. Não.
Amor é um exagero... também não. É um "desadoro"... Uma batelada?
Um exame, um dilúvio, um mundaréu, uma insanidade, um destempero, um despropósito, um descontrole, uma necessidade, um desapego?
Talvez porque não tivesse sentido, talvez porque não houvesse explicação, esse negócio de amor não sei explicar...

a certeza é poente




Caetano Veloso - Lua e Estrela

sábado, 20 de fevereiro de 2010

às vezes...

Quando eles saíram da lavanderia em direção ao metrô na Rua 14, pararam porque havia um morador de rua dormindo num beco.
_ Ele já foi um garotinho - disse o indiano, triste.
O homem estava coberto com vários cobertores e deitava-se numa caixa de papelão úmida. Seu cabelo era ralo e embaraçado. Sua pele estava coberta de terra. Seus sapatos era m três números maiores e não tinham cadarços.
_ Ele ainda é um garotinho esperando que alguém o ame - disse Edgar, enquanto tirava o suéter de sua mãe da mochila.
_ O que está fazendo? - perguntou o indiano.
_ Encontrando uma nova forma de amar minha mãe.
Ele deixou o suéter ao lado das mãos do homem, e quando fez isso, os dedos frios e sujos sentiram a maciez da malha e foram busca-la. Aos seus pés, havia uma placa mal escrita que dizia:

ÀS VEZES TODOS NÓS PRECISAMOS DE AJUDA.

[Simon Van Booy - A vida secreta dos apaixonados]

contradições

como te pressinto!

quarta-feira, 17 de fevereiro de 2010

Sim

A dor é uma coisa real
Que a gente está aprendendo a abraçar
E não temer
A velha história do mal
Tão conhecida
Que já nem pode mais nos assustar
O amor é uma coisa real
E a gente nunca deve se esquecer
De festejar
Cada momento pra nós
É pura alegria
É tudo o que a vida tem pra dar
Vem pegar o que é seu
A gente sofre
A gente luta
Pois nossa palavra é sim
A gente ama
A gente odeia
Mas nossa palavra é sim
Viver é coisa irreal
Uns chamam de magia e é tudo tão normal
Mas tá legal
Tem mágica solta no ar
Faz parte do astral
E é isso o que a vida tem pra dar
Vem conquistar o seu lugar
A gente sofre
A gente luta
Pois nossa palavra é sim
A gente ama
A gente odeia
Mas nossa palavra é sim
Sim


Raul Seixas - Sim