quinta-feira, 30 de junho de 2011

ficar sendo...
























ismail özyurt



E, o que era que eu queria?

Ah, acho que não queria mesmo nada,

de tanto que eu queria só tudo.

Uma coisa, a coisa, esta coisa:

eu somente queria era – ficar sendo!



♪ A gente não percebe o amor
Que se perde aos poucos sem virar carinho.
Guardar lá dentro amor não impede
Que ele empedre, mesmo crendo-se infinito.
Tornar o amor real é expulsá-lo de você
Pra que ele possa ser de alguém! ♪

sombra



muratalper
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recolhe-te comigo

aqui onde a luz se encolhe de segredos

como se as horas todas tardias

abriguemo-nos onde é mais ameno o dia

ou

aquieta-te assim em mim

sob a sombra do meu corpo o arrepio

começa logo que a minha mão

feita vulto se afigura no

teu rosto

quarta-feira, 29 de junho de 2011

in[diferença]


























burcuss
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Dói sempre a indiferença

Face ao pedido de palavra

Das ruínas.

Mas doíam também as diferenças

Com que elas dividiam

Nossas sinas.

distraída do tempo...



duchesse-2-guermante

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[...]

e caminhando por entre signos

contempla a distracção nula do tempo

o paradoxo incrível do ser

a ferida íntima da alma

terça-feira, 28 de junho de 2011

para que tu existas



EvilxElf
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Canto-te para que tu definitivamente existas
Canto o teu nome porque só as coisas cantadas
realmente são e só o nome pronunciado inicia
a mágica corrente
Canto o teu nome como o homem fazia eclodir
o fogo do atrito das pedras
Canto o teu nome como o feiticeiro invoca
a magia do remédio
Canto o teu nome como um animal uiva
Como os animais pequenos bebem nos regatos depois
das grandes feras
Canto-te
e tu definitivamente existes nos meus olhos
Sempre abertos porque é sempre os meus olhos
são os olhos da criança que nós somos sempre
diante da imensidão do teu espaço

Canto-te
e os meus olhos sempre abertos são a pergunta
instante pendente de eu te interrogar
e interrogo as coisas em seu ser nocturno
em seu estar sombriamente presentes na tua claridade
obscura
E como é sempre
meus olhos abertos perscrutam-te
símbolo de tudo o que me foge
como apertar o ar dentro das mãos
e querer agarrar-te
oh substância
Canto-te
Para que tu existas
E eu não veja mais nada além de ti

nuvem





















Djoe
DeviantART




Se uma pausa não é fim
e silêncio não é ausência,
se um ramo partido não mata uma árvore,
um amor que é perdido, será acabado?

um ouvido que escuta
uma alma que espera...
-uma onda desfeita
É ou já não era?

Nuvem solitária,
silenciosa e breve,
nuvem transparente,
desenho etéreo de anjo distraído...

nuvem,
esquecida em céu de esperança,
forma irreal de sonho interrompido..

nuvem,
luz e sombra,
forma e movimento,
fantasia breve de ânsia de infinito...

nuvem que foste
e já não és:
desejo formulado e incompreendido.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

olhos deslumbrados


bora deviantART

São estes ainda,

os olhos da infância,

deslumbrados,

deslumbrando-se

aos milagres da vida:

a intacta pureza das crianças,

os luminosos rostos feminis,

a limpidez das nascentes,

as cambiantes do fogo...

tudo, tudo quanto é beleza

ou lhe deslumbra beleza

os olhos deslumbrados.



[para maria clara, julia e matheus]

um lugar no meu coração



photoport deviantART

Sei somente, que um dia,

teus olhos despertarão, coloridos,

e acredite, meu amor, não haverá

uma manhã sequer, que negra

não assuma o teu esplendor,

uma manhã em que não sorrias,

é isto que eu te ofereço:

— Um lugar no meu coração!

domingo, 26 de junho de 2011



Pois é, não deu
Deixa assim como está sereno
Pois é de Deus
Tudo aquilo que não se pode ver
E ao amanhã a gente não diz
E ao coração que teima em bater
avisa que é de se entregar o viver

Pois é, até
Onde o destino não previu
Sei mas atrás vou até onde eu consegui
Deixa o amanhã e a gente sorri
Que o coração já quer descansar
Clareia minha vida, amor, no olhar

gostava de senti-lo à tua maneira



Olena Chernenko

O peso da vida!
Gostava de senti-lo à tua maneira
e ouvi-la crescer dentro de mim,
em carne viva,

não queria somente
rasgar-te a ferida,
não queria apenas esta vocação paciente
do lavrador,
mas, também, a da terra
e que é a tua

Assume o amor como um ofício
onde tens que te esmerar,

repete-o até à perfeição,
repete-o quantas vezes for preciso
até dentro dele tudo durar
e ter sentido

Deixa nele crescer o sol
até tarde,
deixa-o ser a asa da imaginação,
a casa da concórdia,

só nunca deixes que sobre
para não ser memória.

nunca é tarde



Djoe DeviantART

Quando no cais só fica ancorada
A indiferença e já não resta nada
Senão as ilusões a que te agarras.

Ouve a voz inefável das guitarras
Tingindo de paixão a madrugada
No fim duma viagem povoada
Do canto indecifrável das cigarras.

Saberás então que há sempre um começo
No profano rio em que a vida arde,
E é nessa maré viva que estremeço.
Mas, ainda que saibas que nunca é tarde,
Não tardes, que sem ti eu anoiteço,
E não peças jamais ao rio que aguarde.

viver e abraçar os rumores do presente



decorposee
deviantART


Agora não professo
nem sussurro ao vento
os segredos que reinvento,
remo na transumância dos dias.
O sonho, esse discípulo
da noite dissipada,
inspira-me à peregrinação.
Agora não tenho fronteiras,
mas quando o exílio da memória
me retém o espelho dos dias
ao sentido original das coisas
regresso, porque é necessário
ser contemporâneo do tempo.
Agora, sim, professo:
viver e abraçar os rumores
do presente.

sexta-feira, 24 de junho de 2011

buscava o seu atalho



Djoe
DeviantART


Não era à toa que ela entendia os que buscavam caminho. Como buscava arduamente o seu! E como hoje buscava com sofreguidão e aspereza o seu melhor modo de ser, o seu atalho, já que não ousava mais falar em caminho. Agarrava-se ferozmente à procura de um modo de andar, de um passo certo. Mas o atalho com sombras refrescantes e reflexo de luz entre as árvores, o atalho onde ela fosse finalmente ela, isso só em certo momento indeterminado da prece ela sentira. Mas também sabia de uma coisa: quando estivesse mais pronta, passaria de si para os outros, o seu caminho era os outros. Quando pudesse sentir plenamente o outro estaria a salvo e pensaria: eis o meu porto de chegada. Mas antes precisava tocar em si própria, antes precisava tocar no mundo.

quinta-feira, 23 de junho de 2011

sou o vento que bate em minha cara


















MissElain
DeviantART




Assovia o vento dentro de mim.

Estou despido. Dono de nada,

dono de ninguém,

nem mesmo dono de minhas certezas,

sou minha cara contra o vento, a contravento,

e sou o vento que bate em minha cara.

é a arte de viver...





















feelonia
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Habito no halo
dos meus versos
onde incansavelmente
rimo palavras sem rima
e seco lágrimas sem pranto

é a arte de viver...

como lacrar a vida e o amor
sem cantar?
como vencer o tédio e o temor
sem bailar?
eis a razão
porque sonho sem sono
porque voo sem asas
porque vivo sem vida

no avesso dos versos escondo
o tesouro da minha contrariedade
o mistério da minha enfermidade
e o feitiço da minha eternidade

ilumina o mistério da vida

terça-feira, 21 de junho de 2011

de uma fonte não sei onde...





















TheyCallMeQuietGirl
DeviantART




é a visita do tempo nos teus olhos,

é o beijo do mundo nas palavras

por onde passa o rio do teu nome;

é a secreta distância em que tocas

o princípio leve dos meus versos;

é o amor debruçado no silêncio

que te cerca e que te esconde:

como num bosque, lento, ouvimos

o coração de uma fonte não sei onde...

segunda-feira, 20 de junho de 2011

me descuido e vou…...














Djoe
DeviantART



Sigo à risca. Me descuido e vou…
Quebro a cara. Quebro o coração. Tropeço em mim.
Me atolo nos cinco sentidos. Viver não é perigoso?
Então, com sua licença! Não tenho medo.
Nasci assim. Encantada pela vida. O sertão é dentro da gente.
Ah, como não? Aqui tudo é achado.
Somos ferro e fogo. Perigo nunca falta!
Sertão é igual coração. Se quiser, que venha armado!
Tudo é igual. Aqui se vive. Aqui se morre. Dentro e fora da gente.
Confusão demais em grande demasiado sossego.

domingo, 19 de junho de 2011

lições













prettyclair
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Não aprendi a colher a flor
sem esfacelar as pétalas.
Falta-me o dedo menino
de quem costura desfiladeiros.

Criança, eu sabia
suspender o tempo,
soterrar abismos
e nomear as estrelas.
Cresci,
perdi pontes,
esqueci sortilégios.

Careço da habilidade da onda,
hei-de aprender a carícia da brisa.

Trémula, a haste
me pede
o adiar da noite.

Em véspera da dádiva,
a faca me recorda, no gume do beijo,
a aresta do adeus.

Não, não aprenderei
nunca a decepar flores.

Quem sabe, um dia,
eu, em mim, colha um jardim?

sábado, 18 de junho de 2011

e o dizer dos lábios





















MissElain
DeviantART




Repercutem os nomes abatidos
a luz atravessada do avesso
as películas que ficam do absoluto dos poemas
o ofício da vigília dentro do sono mais profundo

- designações trémulas do sagrado
ou um par de asas a corromper o silêncio -

nenhum regresso está preso às pálpebras





















Bolshevixen
DeviantART




Nenhum regresso está preso às pálpebras.
Explicam-me, por fábulas, que só o que resta
do Verão é sensível à luz – como as ombreiras das
portas ou o restolho batido pela impossibilidade
do vento – e eu acredito.

Alguma coisa há de verdade em tudo isto
[nenhum regresso está preso às pálpebras]:
olho por dentro do silêncio e o negrume
é nítido como um grito.

tentando ser certeza

sexta-feira, 17 de junho de 2011

tenho estrelas nos olhos











prettyclair
deviantART




Tenho estrelas nos olhos

e um quarto escuro cravado

em meu peito.

À ruína clareio-a

com futuras águas

mesmo quando o corpo

se dissolve afogado.



[nocturnos]

quinta-feira, 16 de junho de 2011

deixe-me dormir...






















tokarchuk
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Deixe-me dormir
quando
morre a noite.
Assim o amor
será absoluto
sacrifício
impassível sangue
árido prazer.

Deixe-me dormir
quando
morre a noite.
Assim o amor
guardará
uma grega ilusão
de sonho
e embriaguez.

Deixa-me dormir
quando
morre a noite.
Assim o amor
terá merecido
a dor, veloz,
insustentável
e imoderada.

Deixa-me dormir
quando
morre a noite.
Assim o amor
dir-nos-á
sois abandonados
cristos
na boca de deus.


[nocturnos]

quarta-feira, 15 de junho de 2011

subimos pelo silêncio



























tokarchuk

deviantART



Subimos
pelo silêncio
quando a chuva
cria incerta
o poema
de água e cal.

O amor
é então
ar e peso
incapaz
de conter
a precisa forma.

Nada
é coeso.
a sombra
súbita e nítida
traz a memória
separada.

E teu sono
impõe um corpo
em frêmito
ou vôo
quando
baixa o sol.

Expande-te
um pouco mais
inclina a cabeça
nessa dor lúcida
de pequeno ser.

Há ternura
no mundo
e em cada
ínfimo grão
a fadiga
cresce solúvel
na noite fechada.


[nocturnos]

o acaso diante de nós

























[...]
pensava se haveria no mundo
caminhos que nos conduzam

não chegava a conclusão
ou nem dava por ela
hesitante nessas moradas
de regras tão imprecisas

existe um momento
pouco importa qual
que se reúnem ao acaso
diante de nós
todas as condições de uma vida
desesperada


[baldios – moradas provisórias]

terça-feira, 14 de junho de 2011

sou eu ardendo em mim...

é isso um facto ou uma arma?














tokarchuk
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Uma verdade deveria existir
não deveria ser usada
assim. Se eu te amo

é isso um facto ou uma arma?

O corpo mente
ao mover-se assim, são estes
toques, cabelos, o mármore
macio e húmido que a minha língua percorre
mentiras que me estás a dizer?

O teu corpo não é uma palavra,
nem mente
nem fala a verdade

Apenas
está aqui ou não está.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

na evidência de uma cicatriz























Vem, escuridão, leve

e cega, avança incólume.

E se nada mais houver

persista a lucidez

na oblíqua evidência

de uma cicatriz

que a paisagem escuta.


[nocturnos]

domingo, 12 de junho de 2011

um lugar que és só tu


















[...]

sim, também eu amaria alguém

por apenas um gesto de fascínio,

erguendo braçadas de mar e areia

nas toneladas que tu pesas vivo

além do equilíbrio que é procurado

em versos que não vieram

de nenhuma esquerda direita cima baixo,

mas de um lugar que és só tu.

o que digo

sopro suave como uma carícia





















recepgulec
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Sopra um vento entre mim e ti
nascido como todos
quando escavávamos dentro de nós
escavando a distância
foi já tempestade fechada em nevoeiro
hoje é apenas brisa
afrouxada na distância
recebo esse sopro suave como uma carícia
de quem ao largo me acena
enquanto parte
sempre entre nós um vento
ar com que te respiro
enquanto o longe nos escava
a distância

sábado, 11 de junho de 2011

quinta-feira, 9 de junho de 2011

esperança












Don Smith



já morreram as duas
árvores que
plantei perderam se

no mundo os pequenos
poemas que
escrevi esvaziaram

se de mistérios as noites
de desamparo

o corpo magoa se com
o tempo nenhuma
chuva incomoda mais dói

olhar

prá frente

terça-feira, 7 de junho de 2011

agora sei:

perscrutação





















a14onymus
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não me canso de dizer que cada coisa
pode ser o contrário do que é.

quando digo que cada coisa pode ser
o contrário do que é, sei perfeitamen
te o que digo e é isso que quero di
zer e não o contrário, embora o contr
ário também esteja certo, porque cada
coisa também pode ser o que é.

a função das coisas é ser aquilo
que se quer que elas sejam.

segunda-feira, 6 de junho de 2011

perder ruínas, pasmando o nada...

a chuva













Elyse Butler




A chuva distorce o claro e o escuro,
e quase apaga os rostos
do homem e da mulher que estão parados
na esquina, sob a marquise.

Talvez seja melhor assim;
pensar que os rostos ainda existem
porque a esquina ainda existe
e porque chove como antes.
Talvez seja melhor esquecer
que os rostos se desmancharam
como se fossem feitos de cera
ou de qualquer outra matéria pálida.



You play your part painting in a new start
But each gate will open another

quando algo é lindo...











liniers

domingo, 5 de junho de 2011

ao nome breve que se guarda















sirbion

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A verdade é que não conseguia curar-se
de uma delicadeza infinita
senão consigo
ao menos para com o mundo
a glória desejava semelhante
no escuro e à luz dos campos
embora tanto se achasse incapaz

preferiu sempre a seta que desaparece
ao nome breve que se guarda


[baldios - seta]

com as nossas palavras construi-lo























[...]

E, no entanto, é à sua volta
que se articula, balbuciante,
o enigma do mundo.
Não temos mais nada, e com tão pouco
havemos de amar e de ser amados,
e de nos conformar à vida e à morte,
e ao desespero, e à alegria,
havemos de comer e de vestir,
e de saber e de não saber,
e até o silêncio, se é possível o silêncio,
havemos de, penosamente, com as nossas palavras construi-lo.

Teremos então, uma casa onde morar
e uma cama onde dormir
e um sono onde coincidiremos
com a nossa vida,
um sono coerente e silencioso,
uma palavra só, inarticulável,
anterior e exterior,
como um limite tendendo para destino nenhum
e para palavra nenhuma.


[nenhuma palavra e nenhuma lembrança - ludwig w. em 1951]

como eu em vós...



















[...]

Que respostas vos darei,
coisas, se tudo é de mais,
se em vós procurei
o que em mim procurais?

Um espelho, um olhar
onde me ver;
um silêncio onde escutar
as minhas palavras; algo como uma vida para viver.

Se estais também sós,
assustadas e hostis,
como eu em vós?



[nenhuma palavra e nenhuma lembrança - la fenêtre eclairée]

sábado, 4 de junho de 2011

buscando seu silêncio





Vim

buscar o que perdi

no espanto do dia



Nem que seja



seu silêncio



[ Habite-se – Caminhada]



Nikola Miljkovic

quinta-feira, 2 de junho de 2011

não vivem senão em nós














MojoFire
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Cada dia que passa incorporo mais esta verdade, de que eles não
.................................................................[vivem senão em nós
e por isso vivem tão pouco; tão intervalado; tão débil.
Fora de nós é que talvez deixaram de viver, para o que se chama
....................................................................................[tempo.
E essa eternidade negativa não nos desola.
Pouco e mal que eles vivam, dentro de nós, é vida não obstante.
E já não enfrentamos a morte, de sempre trazê-la conosco.

Mas, como estão longe, ao mesmo tempo que nosso atuais
.......................................................................[habitantes
e nossos hóspedes e nossos tecidos e a circulação nossa!
A mais tênue forma exterior nos atinge.
O próximo existe. O pássaro existe,
E eles também existem, mas que oblíquos! e mesmo sorrindo, que
.............................................................................[disfarçados...

Há que renunciar a toda procura.
Não os encontraríamos, ao encontrá-los.
Ter e não ter em nós um vaso sagrado,
um depósito, uma presença contínua,
esta é nossa condição, enquanto,
sem condição, transitamos
e julgamos amar
e calamo-nos.

Ou talvez existamos somente neles, que são omissos, e nossa
............................................................................[existência,
apenas uma forma impura de silêncio, que preferiram.


[nova reunião - convívio]

quarta-feira, 1 de junho de 2011

contrastes























MojoFire

DeviantART



[...]
mas vive-se de um momento para outro
a imensidão flagrante dos contrastes
nomes imóveis, repletos
o desejo assinala

é assim que rodo
à volta de lugares desconhecidos
nenhum corte me doeu
nunca estive sozinha


[baldios - para um desenho de Ilda David']