quarta-feira, 31 de agosto de 2011
terça-feira, 30 de agosto de 2011
domingo, 28 de agosto de 2011
até perder todos os signos...
quelquechose - deviantART
Amor. Amor. Amor, gostava de dizer esta palavra até gastá-la ainda mais. Amor, gostava de dizer esta palavra até perder ainda mais o seu sentido. Amor. Amor. Amor, até ser uma palavra que não significa nem sequer uma ilusão, uma mentira. Amor, amor, amor, nem sequer uma mentira, nem sequer um sentimento vago e incompreensível. Amor amor amor, até ser nem sequer uma palavra banal, nem sequer a palavra mais vulgar, nem sequer uma palavra. Amoramoramor, até ao momento em que alguém diz amor e ninguém vira a cabeça para ouvir, alguém diz amor e ninguém ouve, alguém diz amor e não disse nada. Sozinho, diante da campa. O amor é a solidão.
[Uma Casa Na Escuridão]
sábado, 27 de agosto de 2011
a noite se desfez...
griet pear deviantART
nunca te pensei porto para rotas
embarcações apenas caminho
compartilhado nunca te
quis guia dos meus inúteis
combates comigo
mesmo somente par nas
incompreendidas
saudades
havia tanta coisa a
fazer nesta terra
inclemente de mãos
dadas e quando a
noite se desfez nossas
frágeis palavras enfim encheram
se de
asas
sexta-feira, 26 de agosto de 2011
do tempo que há-de vir...
bubble gum heart deviantART
A árvore da sombra
tem as folhas nuas
como a própria árvore ao meio-dia
quando se finca à terra
e espera
como um cão espera o regresso do dono.
Nós abrigamo-nos mais tarde ou mesmo agora num lugar
muito distante
onde o tempo recorta
um tapete que esvoaça no papel.
A casa da sombra
é branca e habitada.
Somos nós ainda
sentados ao fogo que o teu sorriso
acende e aconchega
no silêncio que ilumina
a árvore da sombra
para que a noite desenhe
o seu nome visível
e a sombra possa contemplar
Os ramos mais belos e o tronco mais esguio
do seu objecto.
Nesta sombra há um imenso amor
ao meio-dia.
A hora dos prodígios
é feita de segundos do tempo que há-de vir
e o horizonte
é a proximidade total da tua boca.
quinta-feira, 25 de agosto de 2011
quarta-feira, 24 de agosto de 2011
terça-feira, 23 de agosto de 2011
na pretensão do gesto
Djoe - DeviantART
[...]
Jamais o silêncio
se refere ao silêncio.
Jamais a aurora, à aurora.
Ele, seus passos nos séculos.
Ela, fielmente congelada
no instante.
(...em meio a um universo enfurecido,
atada a seu espaço,
por pesadas correntes
de sombra e luz reunidas.)
Jamais à ausência
se refere a ausência.
Jamais ao crepúsculo, o crepúsculo.
A desmesura não seria senão
um limite perdido, reconquistado?
Onde ele não é mais suportável
e se confunde com sua ambição
inconfessada.
Abusiva pretensão do gesto;
da forma apaixonada por si própria.
No universo, tantos muros
provocantes
e portas proibidas.
segunda-feira, 22 de agosto de 2011
um canto de paz...
FttSniper DeviantART
Sei a hora em que a face mais impassível
é atravessada por um cruel esgar:
desvenda-se por um triz uma pena invisível.
Na rua apinhada ninguém a pode enxergar.
Vós minhas palavras, em vão traís o aguilhão
secreto, o vento que sopra no coração.
A verdadeira razão está em calar-se.
O canto que soluça é um canto de paz.
[ossos de sépia]
domingo, 21 de agosto de 2011
ao alcance do infinito
sábado, 20 de agosto de 2011
ressurreição
lembre-se que tens um cálice esperando
catliv-deviantART
Duro é sentir-se humana em cada instante
quando se cruzam os limites amargos
e temos de voltar ao ponto de partida
verso a verso, com as asas quebradas.
E para ir até uma pausa, lembre-se
que tens um cálice esperando,
porque viver é uma questão de uns poucos
e tu só conheces o impossível.
sexta-feira, 19 de agosto de 2011
a tua pele descalça
Inf3ctedDoll-DeviantART
Veio uma onda . A varrer o meu sono .
Caminhava nele como caminho na areia .
Nada me une ou divide. Nada me retém.
Sentas-te onde me sento no teu colo
e peço sempre a mesma história . A tua voz
cria as memórias que hei-de ter . Por agora
caminho ao longo das gaivotas e grito como elas
quando a maré baixa . Às vezes apoio-me num rochedo
para dizer “casa” e logo desmorono. Sigo descalça
como tu para dizer “seguimos”. Mas são apenas sons
sob o sol de maio. Murmúrios do que não serei.
Sempre tive problemas com o verbo ser. Faço
e desfaço as malas, entro e saio das gavetas.
Pausa na camisa que vestiste da última vez.
Uma vontade de a amarrotar, desapertar os botões
e sentir lá dentro a tua pele cá fora.
Tudo isto é tão verdade como podem ser os botões
de uma camisa escrita. Confesso que não pensei na cor,
ou se era às riscas. Agora acho que podia ser a de quadrados.
Em qualquer delas a tua pele entra na minha.
quinta-feira, 18 de agosto de 2011
as coisas pelo nome
Catliv-DeviantART
Eu não sou o meu nome. Eu sou o teu nome escrito do avesso. Eu sou o meu nome encostado à tua cabeça. O meu nome que foge de mim. O teu nome e o meu nome atados com cordas. O teu nome sou eu quando me debruço por cima do teu ombro. O meu nome a fazer uma pirueta. O meu nome a cair lentamente sobre a tua cama estreita de mulher. O teu nome dentro da minha boca. Sou eu a pedir-te que repitas o meu nome, sussurro a sussurro, letra a letra. Sou eu a dizer o teu nome que trago debaixo da língua. O teu nome no meu sexo estampado. O meu nome no teu sexo estrela. O meu nome é um sexo levantado. O meu nome é uma carícia que me fazes por cima da minha cicatriz. O meu nome é a cicatriz a meio do teu corpo. O meu nome plana por cima das planícies em busca do teu nome. O meu nome cai a pique junto ao teu nome. Nunca digas o meu nome. O meu nome não existe. Não vem em nenhuma página escrita. O meu nome é um cifra escrita a verde ultramarino. Verde ultramarino é a cor de que mais gostam os nossos nomes. O meu nome sobre o teu nome. O teu nome sobre o meu nome. Os nomes muito perto. Os nomes muitos. Os nomes exaltados. O meu nome em cadência lenta. O meu nome é forte como um bicho selvagem. Os nossos nomes percorrem as paisagens como cavalos endoidecidos. Quem diz o meu nome diz amor, qualquer coisa aflita. Quem diz o teu nome deseja ser atingido por um raio, elevado aos céus. O meu nome por dentro do teu nome. O teu nome a pedir perdão por tudo. O meu nome, o teu nome, agarrados por cordas, a cair num precipício. Os nossos nomes são coisas que se comem por dentro. As coisas pelos nossos nomes são aves sagradas. Nome a nome, coisa a coisa. O sol morre dentro do meu nome, na minha boca. O teu nome abriga numa mão fechada o que resta do meu nome. Nomes muito belos. Um nome sem nome. Um nome inefável, inomável. Um nome que ninguém conhece. Só o teu nome sabe o meu nome de cor. O meu nome a subir pelo teu. O teu nome repete o meu nome, nome a nome, sílaba a sílaba. As coisas pelos seus nomes. Os nomes pelas suas coisas. Cada coisa com seu nome, o nome sem fim. Cada nome com sua coisa. O nome do nome no umbigo do mundo.
as palavras terão sentido ainda?
hiimlucifer-deviantART
Recomecemos então, as mãos
palma com palma.
Diz, não digas, a palavra.
As palavras terão sentido ainda?
Haverá outro verão, outro mar
para as palavras?
Vão de vaga em vaga,
de vaga em vaga vão apagadas.
Seremos nós, tu e eu, as palavras?
Onde nos levam, neste crepúsculo,
Assim palma com palma,
de mãos dadas?
quarta-feira, 17 de agosto de 2011
terça-feira, 16 de agosto de 2011
a desconcertante verdade do amor
tesão do talvez
© Liliana Karadjova
[...]
Dramas rápidos mas intensos.
Fotogramas do meu coração conceitual.
De tomara-que-caia azul-marinho.
Engulo desafroros mas com sinceridade.
Sonsa com bom-senso.
Antena na praça.
Artista da poupança.
Absolutely blind.
Tesão do talvez.
Salta-pocinhas.
Água na boca.
Anjo que registra.
[a teus pés - sumário]
segunda-feira, 15 de agosto de 2011
atentos ao nada
psychiatrique deviantART
e a noite é isto quando nos
as pálpebras apagam o quarto.
as sombras arrebanham as palavras
e em breve são elas como um comboio
que atravesse a solidão de uma paisagem.
e nós somos o nariz de uma criança
colado no vidro desse comboio que
avança devagar e nos fica como
a impressão de um sol tardio.
escrevo de olhos fechados não penso
em nada nem sou nada.
sou antes às vezes as pás de um moinho
e o vento que rodopia nas suas velas e
traz o eco enxuto da vida dos camponeses.
acabar ou começar, que importa?
a noite é isto, isto de olhos sem ver
atentos, como eu, a tudo o que passa
o quanto aumenta mundo
domingo, 14 de agosto de 2011
poema ao filho
mudwrestler
deviantart
a Guilherme Passos do Carmo Reis - Sá
Cresceste tanto que deixaste os meus braços para trás.
Dantes, chamavas e eu ia levantar-te do berço, preocupado
com teu choro. Deixava-a a dormir e dava-me todo a ti.
Tu, nos meus braços, deitado e tão pequeno, abraçavas-te
muito à minha preocupação. Dizias baixinho: vamos ouvir
música, quero dançar contigo até que os demónios da noite
sejam longe. E eu ia. Ia tanto como nunca, eu que nunca
dancei para ninguém. Ligava a música, colocava-a baixinho,
tão baixinho que só nós sentíamos o seu som: A rare
and blistering sun shines down on Grace Cathedral Park,
e dançávamos. Ao som da música eu era o Pai, ao som da
música tu eras o Filho. Dançávamos como dois anjos, sabes?,
mas isso não te digo porque é muito expressivo e fica mal
no Poema. Dançávamos heróis, é mas bonito. Eu era o teu
herói, aquele que te abraçava o corpo pequeno, muito nu e
encostado em mim. Tu eras o meu herói, as mãos jovens ainda
te seguravam com a força toda do mundo. Podem dizer que
dançarias com qualquer um que levantasse do berço e te
sossegasse o sono. Mas não. Quem diz isso nunca foi teu pai
e nunca te sentiu filho. Nós éramos um só, um lugar-comum,
eu sei, mas éramos. Eu apenas contigo nos braços, minha
única roupa, meu único conforto, minha única protecção.
Tu embrulhado em mim com tua pequena pele, inseguro
e tímido. E a noite, a longuíssima noite, eterna noite que
eu desejava nunca terminada. O céu no seu lugar devido,
a terra no seu lugar devido, e nós, nós os dois no lugar
que devemos para sempre um ao outro: um ao outro,
um para o outro como duas peças de um jogo universal.
Agora, filho, agora cresceste e saíste dos meus braços. Terás
um dia alguém que te embale o sono como eu embalei, mas
nunca este amor que nasceu comigo comigo e desbrochou contigo,
nunca este amor que só eu, teu pai, posso oferecer ao longo da noite.
Bargos, Fevereiro de 2002
[biologia do homem - poema ao filho]
sábado, 13 de agosto de 2011
o brilho da desordem
Ninguém se aproxima de ninguém se não for num murmúrio,
entre flores altas: camélias de ar
espancado, as labaredas dos aloés erguidas
de uma carne difícil.
A beleza que devora a visão alimenta-se da desordem.
O espaço brilha dela, sussurra quando passa por uma imagem
tão leve que não suporta o peso
brusco
do sangue - as veias da garganta contra a boca.
[poesia toda]
todos os dedos da mão
[...]
Tem-se medo do poder
da nudez,
A finura da carne: uma unhada
no coração:
o modo de fazer rodar o quarto:
o barulho que se ouve nos canos onde
a água vive - tudo
sob a ameaça de uma riqueza
brusca
em nós, Quando um raio se desencadeia
pela coluna vertebral
abaixo, O golpe entre as madeixas
frias, Toca-se na cama:
e nunca mais se dorme, Toca-se
onde os pulmões se cosem à boca para gritar,
Às vezes tem-se o dom de fincar os pés na paisagem
em massa, Um feixe
desenfeixa-se no avesso - estala
fora, Com que vozes se encontra a gente
quando
o pavor se faz música
ordem
exercício nominal?,
Arrancamo-nos a tudo como
se arranca a unha
a um dedo: ou o dedo à mão: ou à mão
ao gesto
amassando a terra como se penteia,
Pente que reabre a chaga e a alastra,
Que a aprofunda
como o sangue aprofunda a claridade
pequena
de um lenço, se o lenço
se molha na costura que sangra
perpetuamente, A coroa irrompe da cabeça
pelo ímpeto
da realeza animal, O choque de um astro
calcinaria tudo
- o ceptro que nos crava no mundo
o manto
o escudo
os anéis como nós de dedos,
Morre-se de alta tensão,
É o relâmpago de um troço avistado,
As voragens à força de janelas,
Ou é Deus que nos olha em cheio: dentro
[a cabeça entre as mãos]
sexta-feira, 12 de agosto de 2011
por um momento...
quinta-feira, 11 de agosto de 2011
na luz que baixa e me confunde
quarta-feira, 10 de agosto de 2011
segunda-feira, 8 de agosto de 2011
dizer o ar quando a luz ilumina o casulo
[...]
a infância é cheia de sol e memória, e só o futuro dirá como
representaram esses tempos, acostados à barra, as nossas loucas
investidas em alto mar. a nossa infância é feita dos dias presentes,
perseguindo os sonhos com a boca aberta, querendo comer a luz
que rodeia o metal dos comboios em frente do portão. somos
crianças, acreditamos em anjos todos os dias, o nosso reino é coisa
de meninos e meninas que se afastam até ao pátio da escola e, no
desgorverno dos sonhos, constroem livros como borboletas
......................................................................................aprendendo
a dizer o ar quando a luz ilumina o casulo de onde nascem.
[ biologia do homem]
por onde ninguém jamais trilhou
utopic man deviantART
(...) se vieres à minha procura
vem devagar e suavemente para não quebrar
a porcelana da minha solidão.
Sohrab Sepehry
vem devagar e suavemente para não quebrar
a porcelana da minha solidão.
Sohrab Sepehry
arrancar de onde já
não há mais qualquer
sentido onde jamais voltará
a ter
recriar por onde ninguém
jamais trilhou onde nunca
mais poderá
regressar
reconhecer se onde nada
mais pode
brilhar no
espelho cada vez
mais turvo de si
próprio
[solidão]
sábado, 6 de agosto de 2011
o que se facilmente se perde:
mymadeleine deviantART
Um sofrimento parecia revelar
a vida ainda mais
a estranha dor de que se perca
o que se facilmente se perde:
o silêncio as esplanadas da tarde
a confidência dócil de certos arredores
os meses seguidos sem nenhum cálculo
Por vezes é tão criminoso
não percebermos
uma palavra, uma jura, uma alegria
[a noite abre meus olhos - esplanadas]
o frio dos dias irremediáveis
wredna
deviantART
meus semelhantes sucumbem
nas tardes suas
tristezas
cotidianas amontoam se
ao meu lado nas
mãos a pele manchada o
frio dos dias
irremediáveis
nos olhos o gosto
das noites mal
dormidas seus
vastos desertos despencam
sobre mim vergam
minhas
pernas
exaustas
a vida se desfazendo
[paradeiro]
sexta-feira, 5 de agosto de 2011
que sou eu
bittersweetvenom
deviantART
[...]
mas não eu
eu sou o outro
que não ri
que não tem cara debaixo do céu
nem palavras na boca
que é desconhecido consigo e comigo
não eu: o outro: sempre o outro
que não vence nem é vencido
que não se preocupa
que não se move
o outro
que se é indiferente
de quem não sei
de quem ninguém sabe quem é
que não me comove
que sou eu
ainda procuro
segunda-feira, 1 de agosto de 2011
se abre em desejo de existir
vampire zombie deviantART
A pele é o meu único limite
atravessa-a
onde a luz é mais forte
não feches lá fora o mundo
nem a mim cá dentro
mostra-me
que o sol no céu
é o sonho em mim própria
a realidade ardente
quando me mordes
e me fazes sentir
que não há diferença
entre lado de fora e lado de dentro
entre dor e carícia
pedra e palavra
porosa às tuas investidas
sou aquela que
se abre em desejo
de existir no mundo
em todo o lado e ao mesmo tempo
dá-me o que tens
de tudo
não exijo mais nada.
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