segunda-feira, 19 de abril de 2010

e perdura na solidão do silêncio...
















O amor nasce velho em qualquer coração;
é fruto tardio
de ancestralidades feridas,
de descompassos hereditários,
do choro antigo das várias gerações,
resultado inebriante
dessa magia de converter lágrimas
numa quase-cachaça.

Todo amor nasce marcado
de lutas recentes, mas findas;
soldado conhecedor de cada canto
do seu campo de batalha,
dos requintes militares,
dos artifícios bélicos
da marcial arte de amar;
discípulo virado em mestre,
professor da triste ciência
de tornar sangue
num quase-veneno.

Todo amor nasce maduro.
Superada a longa seca,
a intempérie,
eis que surge indene
com a esperança perene
de uma vida
que é quase-renúncia.

Todo amor nasce morto,
já vivido, já cantado,
já doído, já amado.

Todo amor nasce duro,
escudo
de ancião experimentado,
que esconde um quase-menino
indefeso.

Todo amor nasce quase;
e se é todo, não o é.

Todo amor nasce pedra
perpétua, e perdura
na solidez de um silêncio
que é quase confissão.

Um comentário:

  1. Nossa, que lindo!!!! De tirar o fôlego!!!


    Claro que você pode postar o meu texto, ficaria honrada!!!

    Beijos

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