domingo, 9 de janeiro de 2011

vida na expectativa


















ekhoz


Vida na expectativa.
Espectáculo sem ensaios.
Corpo sem tirar medidas.
Cabeça sem reflexão.

Não sei o papel que desempenho.
Sei apenas que é o meu, intransmissível.

É já em cena que tenho de adivinhar
de que trata a peça.

Debilmente preparada para a honra que é a vida,
dificilmente aguento o tempo de acção que me é imposto.
Lá vou improvisando embora deteste improvisar.
Passo a passo tropeço no desconhecimento das coisas.
O meu modo de vida cheira-me a provincianismo.
Os meus instintos são crasso amadorismo.
O medo do palco, explicando-me, ainda me humilha mais.
Os factores atenuantes parecem-me cruéis.

Palavras e gestos sem regresso,
estrelas por contar,
o carácter – um casaco à pressa abotoado,
são os deploráveis efeitos desta urgência.

Treinar ao menos uma quarta-feira,
ou repetir uma quinta ao menos uma vez!
E já lá vem a sexta com um guião que ignoro.
Está como deve ser – pergunto
(com um pigarro na voz
pois nem sequer me foi dado pigarrear nos bastidores).

È ilusória a idéia de que é só um exame rápido
realizado em sala provisória. Não.
Fico de pé diante do cenário e dou conta da sua solidez.
Impressiona-me o rigor de cada adereço.
o palco rotativo há já muito que funciona.
Já estão acesas até as mais distantes nebulosas.
Não tenho quaisquer dúvidas que se trata da estreia!
E, seja o que for que eu faça,
para sempre se transforma no que eu fiz.

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