sexta-feira, 8 de julho de 2011

regresso ao sono onde deixei os pássaros

















valentina
vallone



nunca percebi muito de vozes
mas se te ouço

mesmo quando é difícil entender
cada palavra

faço do corpo um espaço de silêncio

escrevo o que ainda conheço
nomes de ruas, pássaros, árvores
monólogos de quem ainda fala alto
é a minha voz ou a tua?
como se tudo fosse uma metáfora sem fim

lá fora a chuva confunde-se com gestos
falamos do tempo, ponte entre o silêncio e o nada

ouve, quando não fores capaz de falar, toca-me

há várias maneiras de começar o dia
quando acordo fumo um cigarro

coso silêncios à pele
num quarto inteiro de palavras vazias
que se repetem como rituais

durante semanas ensaiei regressos
apesar das paredes vazias
não deixo de fingir que não estou só

depois de te dizer que a melancolia já não se usa
fumo um cigarro e invento um abandono

foram várias as vezes que escolhi a tua presença
para que o que escrevo tivesse corpo
(escrevo) gestos num livro de quedas
por entre a paisagem doméstica

cheia de vazios regresso ao sono
onde deixei os pássaros

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