terça-feira, 20 de setembro de 2011

serei menos do que sei...

























sea of ice
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Olhava para o que o meu corpo tem sido e pude ver que todos os retratos
escondiam num fio de oiro memórias inexistentes. Havia apenas uma criança
que gritava fogo e ao dizer fogo as lágrimas exclamavam uma dor perdida,
a dor de ter dor misturada com a dor de não saber dar-lhe nome.

Sobre as veias da mão bate o desespero, antigo, desde os tempos modernos,
reflectido agora na faca do creme do bolo, nas velas só belas
quando a luz faltava. Em todos os graus da luz deixei a pele, era um amor
que balbuciava o seu nome de trás para frente, mudei de razões num inverno.

Não desce devagar ao longo da cara a marca do tempo, apenas golpes
no espaço da semente a crescer, sobre ti caindo a minha mão adormecida,
o primeiro cabelo branco nessa cara de uma noite para outra.
Ah, se os homens pudessem dar cada um seu testemunho, com as imagens
fatais de amor e morte, ignorando toda a beleza à sua volta.

Três ou quatro caras encostadas olhavam as papoilas do campo, e era
como se olhassem espiões a atacar para ganhar poder. Um delírio
do meu sonho? Saía a rastejar de umas catacumbas sem uma única palavra.

Sai de mim, estéril desejo, ao gritar profundamente gargalhei
o mais que eu pude, quase até a forçar o riso. Todo o homem fingindo
ver pouco do corpo é cinza, é quase só tudo água.

Isto foi tudo um engano, até a vida instantânea que é de manhã à noite
bocejo, eu só sei que podia ser diferente a minha vida, podia,
mas não vai ser. Serei menos do que sei, mas se fosse tudo tão previsível
como a certeza de ver a sombra do meu nariz, a vida nem existia.

[...]


[lágrimas]

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