terça-feira, 4 de outubro de 2011

e nada recusa


























armene-deviantART


Pedem à mulher que se sente
e sossegue o fogo dos gestos,
pedem-lhe que ilumine a noite
que há no seu corpo. Pedem.
E ela morde os lábios,
um não, o grito.

Pedem à mulher que se cale
e que não escreva a loucura
que traz nas mãos, o tropel
que avança no seu ventre. Pedem.

E pedem-lhe que siga,
que deixe de ler as estrelas
quando ela já nada pode. Pedem.

Pedem-lhe que deixe de amar a madrugada
e que não acredite na liberdade.
Não existe, dizem.

Mas a mulher traz a ferocidade nos pulsos,
não dorme e vela a noite como um lobo,
aperta os lábios, não chora,
dança, nua e descalça, sobre o fogo das palavras,
não teme a escuridão nem as feras
que descem da montanha para a ver.

A mulher conhece o som
do coração da terra,
escuta a fala das árvores, o salto do tigre.

E ela sabe que só a dança
salva o grito. Luta.
O corpo desarmado e nu,
o canto selvagem
que nasce de si,
na desvairada recusa. Dança.


Essa mulher que caminha no orvalho da madrugada,
de pés nus, que dança na margem do rio,
ouvindo o vento da noite,
essa mulher
que canta o silêncio até onde o grito,
traz na fronte a cicatriz,
que se desenha como a luz na água, a sua loucura,
ela, alheia a tudo,
dança até onde a música eleva os seus pés,
ardem-lhe os lábios, morde a dor, a vida
e nada recusa.

Dança até onde a tempestade a leva.

2 comentários:

  1. Peço que continue intesamente a dançar com sua poesia em meio as tempestades - o melhor da vida.
    parabéns

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  2. Belissimo poema!!!
    NOVALIS disse: "A Mulher é a substância de todas as coisas". Como ele tem razão!...

    Beijos,
    AL

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